sábado, 6 de dezembro de 2008




Fulminado por um raio do Senhor, Bush Junior claudica cego por um gramado, enquanto um zumbi chinês em uniforme de marinheiro se aproxima, de forma sorrateira mas implacável, com a boca escancarada para lhe morder o crânio. A platéia, lá atrás, acha o espetáculo divertido.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008






Essa é certamente uma das coisas mais bizarras da história do cinema: o western soviético. Ou, melhor dizendo, o eastern. Esses filmes de "Velho Leste", produzidos a partir da época do Stalin, eram modelados como um equivalente dos faroestes estadunidenses em todos os sentidos. O cenário era a Ásia Cnetral (Uzbequistão, Cazaquistão, essas coisas). Os "caubóis" eram os soldados da Guarda Vermelha. A civilização era o materialismo dialético. Os "índios" eram os muçulmanos. Agora, o mais bizarro: alguns dos filmes são bons! É o caso deste, o mais famoso, "O sol branco do deserto". Dá pra assistir no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=BfXtD0_8Quc


Atentem para a deliciosa vinheta inicial da "metro goldwyn mayer" soviética.
PS. Eu gosto da estética soviética quase tanto quanto odeio o bolchevismo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008



Houve uma época em que eu não gostava de Lovecraft. Achava que ele escrevia num estilo "gótico gorduroso". Na verdade, eu era meio bocó. Tinha a mania de tripudiar em coisas que, intimamente, apreciava. Uma espécie de masoquismo adolescente. Hoje, sei que Lovecraft escrevia em "gótico gorduroso" porque podia. Ele era insano, e isso desculpa o excesso de adjetivos. Por acaso o Poe conseguiria falar de horrores cósmicos com seu idioma simbolista afrancesado? Claro que não. Cthulhu nos obriga a ser um pouco kitsch.

sábado, 29 de novembro de 2008

Porquinho Alegre

De volta de Curitiba, ao olhar a "capital dos gaúchos" (esse título devia ser de Bagé, né?) fico, pelo contraste, com a estupenda pergunta: o que há de errado com o Porco Alegre? Por que fica ele sempre afundando às margens do Guaíba, com a mesma cabecinha de torresmo entre as orelhas enlameadas? Por que não dá pra existir um espaço público sem bandidagem e pirataria, um monumento que não seja depredado, uma construção bonita que não seja pichada, uma praça que não tenha as lâmpadas quebradas? Será que é porque vivemos numa cidade ostensivamente "malandra", com essa magrinhagem infernal de não dar bola para nada que não dê lucro imediato? Sei lá. Não sou psico-sociólogo. Mas certamente há algo de errado na cabeça do Porquinho Alegre.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Elenco ruim

Gosto de jogar um joguinho assim: penso num filme a ser lançado em breve e tento escolher a pior escalação possível para o elenco. Por exemplo, o Che Guevara do Sordenbergh.

Che – Woody Allen. Ele ficaria ótimo de boina e com roupas de guerrilheiro maiores que o seu número, falando sem parar sobre existencialismo na Sierra Madre, traçando as filhas adotivas dos guajiros, importando um psicanalista maoísta para falar de seus sonhos com a mãe de Marx etc.

Fidel – O anão do Senhor dos Anéis. Em tamanho natural de nanismo, barbudo, arrotando e fumando charutos. Em vez do machado, uma foice-e-martelo.

Regis Debray – Steve Buscemi, enlouquecendo a garotada estudantil francesa.

Se bem que, confesso, eu já havia escalado o Woody Allen para o papel de Batman, alguns anos atrás.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Estou lendo...





Maravilhosa aquisição:

"Fronteira Rebelde - a vida e o tempo dos últimos caudilhos gaúchos", de John Chasteen.
http://www.amazon.com/Heroes-Horseback-Gaucho-Caudillos-Dialogos/dp/0826315984


A história de Aparicio e Gumercindo Saraiva, para quem ainda duvida de que Che Guevara era um bunda mole.

domingo, 16 de novembro de 2008

RESENHAS BÁRBARAS, 2 - "Niña de mierda!"



Medéia, de Delacroix




Assisti “Vicky Christina Barcelona”, do Woody Allen. Ele é a prova de que, ao contrário do que diz minha namorada, eu não gosto apenas de filmes com feudos de sangue, katanás ou demonologia. O Woody Allen é o autor mais civilizado do cinema. Seus filmes e temas não retém nada de selvagem, nada de rústico, nada que não seja altamente instruído, ponderado e sofisticadamente cético, nada que não tenha passado por dois milênios de urbanidade e no mínimo duas décadas de psicanálise (ainda que as neuroses permaneçam). Nesse filme, Rebecca Hall e Scarlett Johanson interpretam, em momentos distintos, o próprio Woody Allen, com sua tagarelice nova-iorquina e desarranjos analíticos (assim como fez o Kenneth Brannagh em “Celebridades”). Mas a personagem mais interessante é a da Penélope Cruz, que se sacode, blasfema e berra “niña de mierda!” com a maluquice trágica de uma Medéia moderna. É uma dessas personagens que são mencionadas regularmente ao longo do primeiro ato, mas só aparecem no segundo, já entrando em cena, portanto, com uma aura legendária. É essa personagem que me faz pensar no excesso de civilização dos filmes do Woody Allen, um excesso que é exatamente sua virtude, mas que é também uma espécie de brecha por onde gostamos que a Penélope Cruz entre gritando e desacorçoando, para estropiar o universo. Foi nela que o Rei Lear pensava quando disse: “I will do such things – I do not know what – but they shall be the terror of the earth”. Majestosa.